Superar crenças limitantes para consolidar uma nova Medicina – Parte 1

Maristela Barenco

Pensar e repensar o significado dos conceitos e valores que aprendemos e que constituem a arquitetura dos processos da vida é algo fundamental, sobretudo em um contexto secular de colonização de significados. Neste contexto, importa reconhecer que muitos valores e virtudes foram capturados por lógicas limitadas e limitantes, ao longo da história, que reduziram os sentidos e a dimensão das coisas.

Na lógica do cuidado com a saúde humana, aspectos relacionais imprescindíveis entre médico/terapeuta e paciente foram sendo subsumidos em “relações” absolutamente hierarquizadas e unilaterais. Na esteira de uma epistemologia científica que ensinou a apartar pesquisador e objeto de pesquisa, surgiu um modelo terapêutico em que o paciente encontra-se inferiormente em relação ao médico/terapeuta – este, detentor do conhecimento sobre o outro e seu processo.

Essa disjunção entre médico/terapeuta e paciente fez com que essa relação perdesse muitos sentidos originários que nasceram carregados de potência e intencionalidade, como, por exemplo, quem deve ir ao encontro de quem; quem tem o conhecimento preponderante sobre o processo; quem determina a terapêutica e as condições do tratamento. A modernidade incorporou esse ethos terapêutico, grande parte sem pensá-lo criticamente, compreendendo que isso fazia parte do escopo moderno do ato de cuidar.

No entanto, se é legítimo afirmar que os resultados dizem a verdade sobre os processos, aquilo que hoje vemos tem mais a ver com doenças e gestão das mesmas,  do que com saúde e sua manutenção. Aspectos que vão desde o tempo determinado de uma consulta, passando pela extrema carga de trabalho do médico/terapeuta, até o grau de complexidade da saúde dos pacientes, médicos/terapeutas compreendem que o que podem fazer pelo paciente é o que cabe no modelo consolidado de um consultório. Se isso desemboca em cura e equilíbrio, teríamos que fazer um estudo profundo dessas condições.

O que sabemos é que pacientes que não se identificam com o médico/terapeuta, ou mesmo com o seu modelo de atendimento e terapêutica, desistem do processo e não voltam para dizerem isso. Simplesmente desaparecem. E até mesmo os que gozam de alguma remissão, dificilmente voltam para relatar isso ao médico, nesse modelo clássico. O impacto disso delineia o desperdício de muitas experiências de vida, tanto do médico/terapeuta, quanto do paciente. Tempos de vida sendo desperdiçados! Com a ascensão de uma ferramenta como o Google, como instrumento de busca, muitos pacientes buscam resoluções por conta própria, sobretudo depois que conhecem algumas bulas de medicamentos, ou assistem algumas entrevistas no Youtube.

Compartilhar:

Veja Também