Superar crenças limitantes para consolidar uma nova Medicina – Parte 2
Maristela Barenco
Medicina BioFAO
A essa altura do texto, podemos reconhecer que a Medicina dos Fatores de Auto-Organização do Biocampo nasceu inspirada em outra lógica e busca formar o médico e a médica em outro ethos, no sentido de uma disposição de seus valores de base. Primeiramente pelo fato de – epistemologicamente – o Archeus (o curador interno) constituir-se um código quântico, de natureza biofísica, que dialoga com a saúde inata do campo vital e não se restringe aos sintomas e doenças como referências; mas, sobretudo, por se instituir uma medicina integralista, que compreende o humano como um sistema fisiológico, que também é psíquico, espiritual e social, a um só tempo. Depois, por entender que a consciência é uma chave importante no processo de auto-organização, já que, como seres vivos, somos sistemas determinados estruturalmente, o que significa que quando algo externo nos incide, o que nos acontece depende mais de nós e das relações em que nos colocamos, do que propriamente de algo exterior. Outros dois aspectos que constituem diferenciais, na terapêutica BioFAO, são o tempo de consulta e escuta do paciente (e para isso se recomenda que uma consulta BioFAO não se faça com plano de saúde) e o fato de uma consulta equivaler a um acompanhamento.
No entanto, há um elemento desse ethos que ainda precisa ser revisto e considerado, tanto para que essa medicina seja, de fato, outra e nova, quanto para que a efetividade do processo possa acontecer.
Fomos orientados, através de um processo de colonização de significados, a conceber que é o paciente que precisa vir até nós. Se ele vem e depois desaparece, não nos sentimos corresponsáveis por isso e nem em irmos ao seu encontro. De fato, talvez não haja tempo cronológico disponível para que isso se dê. Mas há alguns tipos de adoecimentos, muito graves, que chegam à Medicina BioFAO como última viabilidade terapêutica. E, se um paciente chega em um consultório médico BioFAO com tamanha desorganização de seu campo, isso evidencia sua pouca compreensão sobre os processos energéticos de campo vital ou terreno biológico. Ou seja, há doenças que evidenciam o completo desconhecimento do que significa auto-organização. Acontece que, quando esses pacientes iniciam o tratamento, muitas vezes, já estão, concomitantemente, em tratamentos arrojados alopáticos, como quimioterapias, que são tão capturantes em termos de afeto e sensibilidade, que lhes sobra pouco tempo para que tenha esperança ou se lembre ou reconheça a importância da BioFAO como aquela fresta de luz que lhe foi aberta por algum médico e médica.
Nesse sentido e nessas condições, seria muito importante que um médico e uma médica BioFAO garantissem não apenas uma consulta, mas um acompanhamento a este paciente, nesses momentos tão complexos. Não no sentido de persuadirem a continuidade do tratamento BioFAO, mas de criarem um vínculo, um encontro de fato, uma guiança nesse deserto existencial, reversível ou não, que alguém possa passar. Isso seria, de fato, um diferencial único, que criaria uma bifurcação efetiva, entre uma terapêutica alopática e outra, auto-organizadora.
Pensar e repensar esses lugares convencionais do pensamento e da experiência, que vêm sendo reproduzidos e evitados porque sim, sem aprofundamento crítico, faz parte de outra racionalidade médica. É preciso ter coragem para desconstruir essas normas instituídas que estão mais a serviço de instituições do que da própria vida. O biólogo chileno, Humberto Maturana, adverte-nos que “todos os conceitos e afirmações sobre os quais não temos refletido, e que aceitamos como se significassem algo simplesmente porque todo mundo os entende, são antolhos” (Maturana, 2005, p. 15). Afirmar que é um paciente que precisa recorrer a um médico/teraputa e a um tratamento, sempre, constitui um grande antolho. Há processos patológicos alimentados por solidões, descasos e abandonos, que uma simples relação já significa um horizonte de cura.
O cenário das doenças se expande e se complexifica, nessa sociedade desorientada. Há pessoas que, até adoecerem, nunca lhes foi dada a oportunidade de conhecer e experimentar uma relação terapêutica de fato, e serem tratadas na perspectiva de uma medicina de fortalecimento de campo vital ou terreno biológico. O olhar mais comprometido de um médico/terapeuta certamente contribuirá para fidelizar o tratamento, para expandir a Medicina BioFAO e, consequentemente, para promover um processo de auto-organização do Biocampo. É preciso coragem para se reinventar!
Maturana, Humberto. 2005. Emoções e Linguagem na Educação e na Política. Belo Horizonte: Editora UFMG.